Rio Carapá


BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CARAPÁ

Rinaldo Marques Padilha
Licenciatura em geografia – UNIVAG.
Mestrado em geografia – UNEMAT.

rinaldomarques@hotmail.com

O rio Carapá está localizado no estado de Mato Grosso com sua nascente no município de Colíder por onde percorre boa parte de seu trajeto, até servir de limite entre os municípios de Colíder e Nova Canaã do Norte.

O nome Carapá é derivado de uma espécie vegetal (Carapa guianensis Aubl.) Também conhecido entre vários outros nomes de Andiroba e é pertencente da família meliaceae (EMBRAPA, 2006). A árvore que deu origem ao nome do rio foi amplamente suprimida durante o processo de colonização e atualmente é difícil encontra-la as em suas margens.

De acordo com Lorenzi (2002), essa espécie caracteriza-se com porte mediano, com alturas que podem variar de 20 cm a 30 m e diâmetro de 5 cm a 120 cm. Sua área de ocorrência é em toda a região da Amazônia e parte do estado da Bahia.

A nascente do rio Carapá está posicionada nas coordenadas de 10º55’06’’Sul e 55º31’27” Oeste. Essas coordenadas estão dentro da Fazenda Bananal, bem próximo de sua sede que está situado na porção sul do município de Colíder (Figura 1).

Figura 1 – Localização da nascente do rio Carapá | Fonte: Google Earth Pro (2019).

A área da nascente do rio Carapá é formada por uma vereda (área úmida com buritizais) que abrange aproximadamente 0,05 km². A área que está no seu entorno encontra-se desmatada e é utilizado para a prática da pecuária extensiva. Conforme o Manual Técnico de Geomorfologia (2009), a vereda pode ser classificada como uma zona deprimida de forma ovalada, linear ou digitiforme, dentro de área estruturalmente plana ou aplanada por erosão. É assinalada por vegetação típica, caracterizada por palmeiras de diferentes espécies, particularmente buritis e outras plantas indicadoras de umidade como açaí e capim redondo (figura 2). Na área da nascente, possui acúmulo de água, formando uma lagoa que é utilizada para dessedentação do gado e alguns metros abaixo o rio começa seu percurso normal (PADILHA, 2017).

Figura 2 – Nascente do rio Carapá | Fonte: Rinaldo M. Padilha (2017).

Analisando o relevo da região, o Município de Colíder em sua maior parte está localizado na Depressão Interplanáltica da Amazônia Meridional. Mas na parte sul cuja localização está a nascente o rio Carapá encontra-se uma pequena parte do Planalto dos Parecis, com elevações que podem alcançar altitudes superiores a 450 metros.

O rio Carapá nasce nas bordas do planalto em uma altitude de 390 metros. Conforme Padilha (2017), em todo seu trajeto o rio possui 163,526 km de extensão. Os primeiros quilômetros do se seu trajeto o rio percorre declives acentuados e possui padrão meandrante encaixado, isto é, o rio apresenta várias curvas e escavou o seu leito formando barranco alto. Após entrar na depressão o rio continua o seu percurso (cerca de 150 km) em relevo com baixa declividade. O Carapá passa a ser sinuoso na maior parte de seu trajeto, raramente se vê um longo trecho de canal retilíneo.

            Ao se aproximar da área urbana do município de Colíder, o rio recebe obras de engenharia que construiu o sistema de captação e tratamento de água potável que abastece a cidade (figura 3).

Figura 3 – Sistema de captação de água no rio Carapá | Fonte: Rinaldo M. Padilha (2017).

Da nascente até esse ponto (captação de água) consideramos a parte mais importante para o município de Colíder, pois a maior parte da água que abastece a cidade é proveniente de todas as nascentes de pequenos cursos de água que deságuam no rio Carapá. E assim como o canal principal, todos os seus afluentes tiveram suas margens degradadas com sua vegetação ciliar quase totalmente suprimida.

A legislação brasileira (Código Florestal, Lei nº 12.651/2012) não permite ocupar as margens de rios e nascentes, pois são Áreas de Proteção Permanente, as chamadas APPs, independentemente de estarem em áreas rurais ou urbanas, em terras particulares ou públicas. De acordo com o Código Florestal todos os cursos de água com até 10 metros de largura, obrigatoriamente tem que 30 metros de vegetação ciliar preservada em cada margem do rio ou córrego. Dessa forma essa APP não pode ser ocupada, nem utilizada para qualquer fim, exceto quando autorizado em ocasiões especiais pelos órgãos competentes.

Porém, como acontece com as leis brasileiras, é comum as pessoas descumpri-las, seja por falta de uma fiscalização eficiente, seja por falta de conscientização dos proprietários de terras ou devido a baixa condições financeiras de pequenos produtores rurais. Dessa forma, o impacto causado por ocupações irregulares vem preocupando cada vez mais os órgãos ambientais, que observam cada vez mais como as APPs estão sendo reduzidas drasticamente, aumentando o estado de degradação ambiental.

Em muitos trechos do percurso do rio as APPs foram degradadas o que provocou ao um aumento e aceleração dos processos erosivos do canal. Tal impacto gerou uma outra consequência que é o assoreamento do rio em diversos pontos. Dessa forma em vários trechos do canal, o rio encontra-se raso, com indícios de diminuição do volume de água a cada ano. O problema se agrava no período de estiagem que normalmente dura entre três a quatro meses por ano, onde em algumas ocasiões poderá provocar o racionamento de água nas áreas urbanas.

Além do desmatamento das áreas de APPs, a erosão e o assoreamento também ocorrem pelo acesso indiscriminado do gado ao rio. O pisoteio do gado em suas margens para a dessedentação provocam e aumentam os processos erosivos e consequentemente os processos de assoreamento no canal.

O também sofre com o problema da poluição causada pela ação humana, que descartam o lixo gerado pelo consumo desenfreado de produtos industrializados produzidos pela sociedade do consumismo. Algumas pessoas encontram no rio uma solução mais prática e rápida para dar fim as embalagens de pequenos produtos e as vezes até grandes objetos como alguns móveis velhos. Outras pessoas encontram no rio um ambiente de lazer, quando vão com grupo de amigos e até mesmo famílias inteiras fazer um churrasco a beira da água. Até ai uma prática até compreensível, o problema é que lá deixam as latinhas de cervejas, as garrafas de refrigerantes, as sacolas onde levaram as comidas e ainda jogam a gordura utilizada no preparo dos alimentos.

Para que o rio Carapá continue vivo, temos que fazer ações de conscientização, para não poluir o rio, não desmatar a vegetação ciliar, e principalmente promover o reflorestamento. Todos devem ajudar, ou com ações direta no campo de trabalho ou colaborando financeiramente para custear essas ações.

Importante saber que essas ações tem que ser desenvolvida no rio Carapá, mas também em todas as suas nascentes que contribuem para formar o rio principal e toda a bacia hidrográfica do rio Carapá. Para um melhor entendimento do que seria bacia do rio, explicamos na sequencia em detalhe.

Bacia hidrografia é toda a área drenada pelo rio principal que recebe água de seus afluentes e de seus subafluentes e assim sucessivamente. As bacias hidrográficas são delimitadas pelas áreas mais altas do relevo que nós chamamos de divisores de água. Assim, uma bacia hidrográfica tem em suas bordas áreas de relevo mais alto, e no cento dela uma área mais baixa por onde percorre o rio principal (figura 4).

Figura 4 – Esquema de uma bacia hidrográfica | Fonte: adaptado de Haroldo Mathias (2014).

As bacias hidrográficas podem ser divididas em grandes, médias, pequenas e as microbacias. As microbacias são formadas por duas ou mais nascente de rios. Essa por sua vez é caracterizada como uma sub-bacia de uma bacia de pequeno porte, que por sua vez é sub-bacia de uma bacia hidrográfica maior e assim sucessivamente. Esse ciclo só termina quando o rio principal da grande bacia deságua diretamente no oceano.

Vamos usar como exemplo o rio Jaracatiá que corta grande parte da área urbana do município de Colider. O rio Jaracatiá nasce dentro do Parque Florestal Municipal e ainda dentro do parque existem pelo menoses duas nascentes. Ao longo do seu trajeto o rio Jaracatiá recebe vários outros cursos de água que forma uma pequena bacia que é por sua vez uma sub-bacia do rio Carapá.

Nas proximidades da Comunidade Pinheirinho o rio Jaracatiá desagua no rio Carapá, e a partir desse ponto o rio permanece apenas com o nome de rio Carapá que recebe vários outros rios que formavam pequenas sub-bacias que contribuíram para formar a bacia do rio Carapá.

Na divisa com o município de Nova Canaã do norte e nas proximidades da Comunidade Novo México, o rio Carapá encontra-se com o rio Do Meio. Desse ponto em diante a bacia do rio Carapá e a bacia do rio Do Meio vão formar a bacia do rio Parado.

O rio Parado é um dos afluentes do rio Teles Pires que nasce no município de Paranatinga e percorre vários municípios no sentido sul-norte até encontrar com o rio Juruena. Quando o encontro acontece os dois rios perdem o nome dando origem ao rio Tapajós que automaticamente formando a bacia hidrográfica do rio Tapajós.

Na localização do município de Santarém (PA), o rio Tapajós deságua no rio Amazonas. Até esse encontro acontecer a bacia do rio Tapajós era apenas uma sub-bacia da bacia Amazônica. A bacia Amazônica é a maior bacia hidrográfica no mundo e pelo seu rio principal também corre águas dos rios Carapá e Jaracatiá cujas nascente estão no município de Colíder.

A bacia hidrográfica do rio Carapá (figura 5), possui 506 nascentes que dão origem a vários rios que deságuam no rio Carapá. Sua área territorial corresponde a 1.409,121 km², sendo classificada em sua grandeza espacial como uma grande bacia. De acordo com Christofoletti (1999), as grandes bacias hidrográficas possuem área superior a 1.000 km². A bacia tem o padrão de drenagem exorréica, ou seja, o seu escoamento é de forma contínua e toda a sua água tem como destino final o oceano.

Figura 5 – Bacia hidrográfica do rio Carapá | Fonte: Rinaldo M. Padilha (2020).

Como pode ser observado a bacia do rio Carapá abrange área territorial de dois municípios, isso fortalece a importância da preservação dos rios, das suas nascentes e de toda a vegetação ciliar que compreendes as APPs. Então vamos todos proteger o rio e manter o “Carapá Vivo”.

Referências bibliográficas.

CHRISTOFOLETTI, Antônio. Modelagem de sistemas ambientais. São Paulo: Edgar Blücher, 1999.

EMBRAPA. Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Manaus, AM). Andiroba (Carapá Guianensis Aubl.) Manaus, Embrapa Amazônia Ocidental, 2006.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. 4. ed. Nova Odessa: Instituto Plantarum, 2002.

MANUAL técnico de geomorfologia / IBGE, Coordenação de Recursos Naturais e Estudos Ambientais. 2. ed. – Rio de Janeiro: IBGE, 2009. 182 p. (Manuais técnicos em geociências n. 5).

PADILHA, Rinaldo Marques. Bacia hidrográfica do rio Carapá, Mato Grosso: caracterização ambiental, uso da terra e dinâmica fluvial. 2017 151 f. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade do Estado de Mato Grosso, UNEMAT. Cáceres, 2017.


Dissertação apresentada à Universidade do Estado de Mato Grosso: